quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Capítulo 3 – Um anjo

Annabelle
Pude sentir meu cabelo todo desgrenhado da pequena corrida com Pauline. Passei minhas mãos pela crina escura da égua baia, indo à direção ao pelo macio de seu pescoço e o acariciei, sem conseguir evitar um riso ao vê-la relinchar suavemente, ainda com um sorriso bobo no rosto, pulei da cela sem segurar as rédeas. Pauline era mais esperta e confiável do que todas as pessoas que conhecia. Bem, quase todas. Havia três pessoas que eu confiava, além da égua parada a minha frente. Sei que isso deveria deprimir-me, mas apenas me fez rir.
Tirei da pequena bolsa da cela um pedaço de cenoura, Pauline pareceu muito contente com o presente. Acariciei a parte frontal de seu rosto sem pressa, em seguida dei-lhe sua recompensa.
- Vamos que nosso dia será muito longo – peguei a rédea, mesmo sabendo que se não a pegasse seria seguida do mesmo jeito, e virei-me abruptamente para o caminho da casa de minha tia, o que me fez trombar com alguém. Teria caído em uma enorme poça de lama, se braços fortes não tivessem alcançado minha cintura a tempo.
Olhei para cima, para o rosto do desastrado que quase conseguiu destruir meu dia, um palavrão apontado na língua. Então vi aqueles cabelos louros desgrenhados e mal cortados... A pele queimada pelo sol, os braços fortes, sorriso largo no rosto e aqueles intensos olhos verdes. Sorri e soltei um xingamento que o fez rir. Antes que eu pudesse me recompor ele estava me abraçando.
- Como está bonita nossa querida mal educada. – seus olhos brilhavam como os de uma mãe ao ver o filho dar os primeiros passos. Havia tanta ternura naquele abraço, tanto carinho, que toda solidão e aflição que sentira naquele dia sumiram. – estava crente que me abandonaria hoje.
- Como está galante nosso querido desajeitado – disse enquanto recompunha-me, sem conter o riso – sabia desde o começo que eu viria. Nunca quebro uma promessa... – o jovem a minha frente torceu e nariz e franziu o cenho, e então me dei conta que teria que reformular a frase, e, um pouco sem graça, o fiz – Não uma feita com você.
Um novo sorriso fez-se presente no rosto do rapaz, tão vivo e sincero como antes, mas desta vez, era também divertido.
- Sinto-me honrado – sua voz tinha uma espécie de tom falsete grave e rouco, segurei-me para não cair na gargalhada enquanto ele fazia uma demorada reverência.
Estar perto de Daniel simplesmente me fazia bem. Como se nada no mundo pudesse me atingir, como se nada, nunca mais, fosse fazer-me triste. Mesmo sendo falsa, a impressão era maravilhosa. A sensação de seu abraço era morna e confortável.
Ele pegou minha mão, seu toque suave, e começamos a andar rumo à casa de minha tia, seguidos por Pauline.